Reinvenção necessária
Gestor à frente da máquina de alta capacidade de tocar obras constituída atualmente pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal, o engenheiro Fauzi Nacfur Junior, pode e deve ser considerado um dos expoentes incontestáveis do rodoviarismo brasileiro contemporâneo. Também atual presidente da Associação Brasileira dos Departamentos de Estaduais de Estradas de Rodagem (ABDER), o homem gentil, de maneiras simples, direto ao falar, e dotado de uma aguda capacidade gerencial, com grande facilidade para puxar – pela memória – informações e fatos relevantes, recebeu Rodovias&Vias na sede da autarquia, para relatar pormenorizadamente o atual grande momento vivido pelas rodovias do DF e no qual ele e sua equipe, orgulhosamente tomam parte.
R&V: O GDF tem passado por profundas transformações que vem sendo promovidas pela intervenção, melhorias e ampliações pesadas em suas infraestruturas. Sem dúvida, o senhor lidera uma peça fundamental neste tabuleiro. Como este processo se inicia?
Fauzi Nacfur Junior: Desde o início da gestão Ibaneis, praticamente 5 anos atrás, nós focamos em tratar as diversas situações que haviam no trânsito de Brasília, e que atrapalhavam a fluidez. Levantamos esses pontos críticos e começamos a estudar as soluções por meio de projetos. Viadutos, trincheiras, todo o caderno de soluções indicadas para eliminar esses conflitos. Neste momento, estamos em fase de execução e entrega dessas obras, como o Viaduto do Recanto das Emas, que simplesmente acabou com o estrangulamento que lá existia, em uma melhora que se estendeu não apenas ao Recanto em si, mas ao Riacho Fundo 2 e Gama. Na região de Sobradinho, o tratamento foi feito por meio de um belo complexo de viadutos, que também já foi inaugurado e está em operação. Além desses, temos diversos outros empreendimentos importantes em curso, como o Viaduto do Noroeste, que é um bairro novo, que está crescendo muito e já começava a demonstrar a necessidade de melhoria em seus acessos, em frente à EPIA (Estrada Parque Indústria e Abastecimento) e Água Mineral. Claro, observando as regiões que mais crescem no DF, detectamos também que era preciso intervir na região do Jardim Botânico, do Tororó, que tem apresentado índices muito consistentes de aumento de presença de habitantes, em uma região que tem também sido muito procurada para empreendimentos como condomínios, como muitos no próprio Jardim Botânico, no Jardim do Mangueiral, São Sebastião e, na parte da DF-140, outros condomínios como Alphaville e Gama. É uma região que em determinadas horas do dia, fica travada no sentido Sul, ou na direção da Ponte JK ou na região da descida da ESAF (Escola de Administração Fazendária), na DF-001. Então, dentro deste mesmo raciocínio, já estamos com projetos prontos para estes dois entroncamentos. Ainda, seguindo pela DF-001, há a conjunção entre duas cidades, praticamente coladas uma à outras que são Paranoá e Itapoã, e que tinha em um “balão”, o seu maior entroncamento. Justamente ali, estamos construindo um grande viaduto trincheira, que está com andamento a bom termo.
O DER-DF, também está atuando para melhorar a saída para Goiânia?
Sim, na DF-060, na altura de Riacho Fundo 1, onde há a presença de um grande balão que separa a Cidade de Riacho Fundo 1 de Águas Claras. Uma região de intenso desenvolvimento econômico e que motivou a construção de dois viadutos para eliminação completa desse ponto de estrangulamento. Toda essa parte então, de implantação de dispositivos em desnível, visa essa eliminação de pontos de conflito em entroncamentos, pois em todas essas áreas, há um intenso fluxo de veículos. Mas não é só isso. Outra questão levantada desde o começo da gestão, pelo governador Ibaneis, era que ele não queria intervenções pontuais. Tapa Buraco. Ele queria um nível de serviço mais completo, restauração, desde a primeira camada até a superfície do pavimento, para que tivéssemos situações mais consolidadas ao invés de ficar mexendo aqui e ali em pouco tempo. Exemplo disto, é que fizemos vários projetos de restauração completa, como o que foi feito no Pistão Sul. Uma região muito pavimentada na região de Taguatinga, e onde não havia qualquer condição de se fazer outra intervenção que não fosse a recomposição desde a primeira camada e a reconstrução completa do pavimento. Este foi um expediente que se repetiu na pista do Jóquei, no Eixão Norte-Sul, a pista que sai do aeroporto e cruza o Plano Piloto, que foi totalmente restaurada, está nova, sinalizada, e também no Lago Sul, na DF-025, que cruza todo o Lago Sul que está sendo toda restaurada. São vários exemplos de rodovias que estão sendo tratadas dessa maneira.
Ainda falando de intervenções mais pesadas, não podemos deixar de falar da verdadeira transformação que está ocorrendo na Via Estrutural.
É a DF-095, uma rodovia do nosso sistema, que liga o centro do Plano Piloto à cidades importantes, como Taguatinga, Ceilândia, Águas Lindas de Goiás, em um segmento de 14 Km que recebe mais de 85 mil veículos por dia. A estrutural estava com sua vida útil exaurida, completamente saturada. Foi aí que fizemos uma proposta de executar um pavimento novo em concreto. Whitetopping, uma técnica que a própria Rodovias&Vias chegou a explorar em reportagens em alguns momentos, na base existente, com 21 cm de espessura, que concilia facilidade de execução sobre o pavimento existente, com muita durabilidade, provavelmente superior a 20 anos, sem grandes intervenções. É uma obra que muito nos orgulha, está sendo executada no período noturno, respeitando os prazos de cura do concreto. É uma intervenção que vai melhorar muito o ir e vir das pessoas dessa região.
Percorrendo as obras nas nossas visitas técnicas, também notamos que estão havendo ainda muitas ampliações de capacidade.
É verdade que as duplicações têm sido uma boa parte dos nossos esforços. Estamos com alguns outros projetos, fora os que já estão em andamento. Essas duplicações, como fizemos no caminho para Brazlândia, em um trecho da DF-001 na altura do condomínio 26 de Setembro, influenciam muito na questão de segurança viária. Ali em específico, era muito comum termos colisões frontais graves, um enorme problema que foi solucionado pela ampliação, com pistas duplas e barreira central de New Jersey. É mais segurança para os motoristas.
Um fato que chama atenção, é que diferentemente de outros DER’s do Brasil, que atuam muito mais em rodovias distantes de centros urbanos, e que fazem algumas intervenções em pistas onde há manchas urbanas, a malha do DF é muito presente justamente em áreas com essas características. Como é trabalhar em um cenário tá delicado como esses?
São várias rodovias que convergem ou se conectam mesmo com vias de características urbanizadas. E realmente essa é uma característica que diferencia o DER-DF dos demais Departamentos congêneres aí do Brasil. Isto meio que obrigou o DER-DF a ter equipes dedicadas à fiscalização e operação de trânsito. E por quê? Por que o DETRAN cuida das vias urbanas, mas a autoridade rodoviária é o DER-DF. E por esse motivo, pelas rodovias coincidirem e se conectarem com o viário urbano, é que o DER-DF tem no seu quadro, agentes de trânsito qualificados, preparados e que atuam nessas atividades. Outra característica, que é o nosso comportamento de trânsito axial, pendular, com as pessoas saindo, pela manhã, de suas residências, em áreas mais afastadas, em direção ao centro, e, inversamente ao final do expediente de trabalho, no fim de tarde. Isso nos leva, por exemplo, a utilizar de operações como as inversões ou reversões de faixa, onde se aumenta, temporariamente em um sentido, a capacidade de fluidez por meio de uma medida relativamente simples. Acredito que este é um caso único no país, por que é justamente o DER-DF quem faz essa operação. Na verdade, eu vejo que o DER-DF foi se reinventando quando se deparou com essas necessidades. Claro, é preciso deixar muito bem registrado que todo esse esforço, se realiza em meio a um ambiente de integração muito forte entre o próprio DETRAN-DF, a Polícia Militar do Distrito Federal e as outras autoridades de trânsito. Ainda, o DER-DF tem uma outra atividade muito importante, e que também acredito ser única entre nossos pares, que é a nossa fábrica de placas, onde fazemos tanto elementos de sinalização viária quanto de endereçamento. E nesta disciplina, também temos caminhões do próprio DER-DF que estão equipados para fazer sinalização horizontal. Então, eu vejo que este conjunto de esforços culmina, no nosso 3º lugar no ranking nacional da CNT de melhores rodovias públicas do país, atrás apenas de São Paulo e Paraná. Então, sinalização é uma disciplina que nós temos muito presente aqui. E claro, além da nossa produção própria, existem contratos complementares de sinalizações tanto verticais quanto horizontais. Por sinal, este é um item de outro diferencial importante do DER-DF: o fato de termos muitos trabalhos realizados não de forma terceirizada, mas por administração direta.
Certo. Mas a atuação do DER-DF não tem se restringido somente às partes mais adensadas do DF? Sabemos que existem áreas rurais, mais distantes que estão sendo beneficiadas por diversas ações. Quais são elas?
Temos uma programação muito legal nessas localidades mais afastadas, que é chamada “Caminho das Escolas”. E realmente, o DF não é apenas aquela parte da esplanada, as cidades. Nós temos uma área rural enorme, com grande produtividade, um enorme volume de fluxo de agro. Ora, o DF é um dos maiores produtores de morango do Brasil, afinal, para ficar em apenas um exemplo. Já na região do PAD/DF (Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal), temos uma grande produção de grãos, e tudo isso precisa ser escoado. Isto colocado, cada uma dessas regiões tem a sua escola, para atender às crianças, filhas desses agricultores, que moram e precisam frequentar as aulas nessas localidades e que, na época da seca, sofrem muito com a poeira e na época das chuvas, têm que superar a lama para poderem estudar. O Caminho das Escolas vem então, justamente, para garantir um acesso mais digno às escolas, com trechos pavimentados, bem sinalizados. É melhoria social, que repercute em melhora na saúde também.
Podemos falar que é um resgate social. O DER-DF está promovendo o resgate de uma estrutura que é muito emblemática para o automobilismo do Brasil, que é o autódromo Nelson Piquet. Como está este trabalho?
Nós recebemos uma proposta que nos foi encaminhada pelo BRB (Branco de Brasília S/A) e pela Terracap (Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal), de ajudar na restauração e reforma dele. O Autódromo era um equipamento que estava praticamente abandonado, sem que se realizasse uma corrida sequer há mais de 10 anos. Então, o govenador chamou o DER-DF, para que, com seu expertise em pavimentos, seu conhecimento técnico, seu maquinário especializado e mão de obra dedicada, promovesse essa reforma do autódromo de Brasília, que por sinal, foi construído pelo próprio DER-DF em 1974. Então, praticamente 50 anos depois, surgiu essa oportunidade do DER-DF participar dessa grande reforma. A partir dela, abre-se novamente a chance de Brasília receber novamente provas importantes da Stock Car, Fórmula Truck, Motovelocidade e quem sabe, Fórmula 1, pois todo o trabalho tem sido acompanhado por consultores da FIA (Federação Internacional de Automobilismo).
Um cuidado com a história do DF e que nos traz à outra iniciativa muito interessante do DER-DF, que é uma iniciativa de preservação histórica do Departamento?
Nós temos a consciência de que o DER-DF fez e faz a diferença na vida das pessoas que moram no DF. E nós temos muita consciência de que esta é uma trajetória que foi iniciada há 63 anos atrás, pelas mãos e os esforços de grandes pioneiros que formaram a casa. São décadas de trabalhos de pessoas que se dedicaram, deixaram sua contribuição para tudo o que nós podemos usufruir hoje. Deixaram legados. Uma história que nós não podemos deixar se perder. Foi a partir dessa percepção, que toda a diretoria, em um esforço coordenado pelo engenheiro Maurício Marques, nosso coordenador de Planejamento, concebeu essa iniciativa do “Museu do DER-DF”. Esse é um trabalho que foi dividido em 2 etapas, a primeira, com a concepção do Museu à céu aberto, onde, em cada Distrito Regional, temos a presença de alguma máquina representativa da atividade do órgão. Todas peças reformadas com muito critério. A segunda etapa, será constituída em ambiente fechado, e será composta por documentos, materiais audiovisuais com depoimentos e mesmo documentos históricos que poderão ser visualizados digitalmente, como o próprio projeto original do Autódromo.
Falamos do “Caminho das Escolas”, sobre os acessos à escolas formais. Contudo, o DER-DF também é em si, um polo de ensino, se formos considerar a “Transitolândia”.
Esta é uma iniciativa que pode ser considerada a nossa “menina dos olhos”. A Transitolândia consiste de uma “mini cidade” do Trânsito, que recebe escolas, na parte da manhã e na parte da tarde, para que alunos da faixa de 10, 11, 12 anos possam vivenciar e aprender a se comportar de forma segura no trânsito. Lá existe um “circuito”, com carrinhos elétricos e todos os elementos que compõem o trânsito, dentro dessa escala para os pequenos. Tem semáforo, faixa de pedestres, ciclovia, e esses alunos, chegam lá em uma idade que nós compreendemos, é multiplicadora. Lá eles aprendem, tudo o que é correto neste ambiente chamado trânsito. E ela surge a partir da percepção que a falta de educação é um dos maiores problemas, e que esta falta traz consequências gravíssimas. Com a Transitolândia, nós endereçamos parte do nosso amplo compromisso em humanizar mais os comportamentos de trânsito e valorização da vida, pois futuramente, nós estaremos diante desses futuros motoristas, que terão mais consciência e que, de forma mais imediata, cobram de suas Mães, Pais, parentes, um comportamento compatível com o que aprenderam lá como correto e seguro. É um ambiente muito bacana e uma iniciativa que traz muito resultado. Veja só, por exemplo, a questão do uso do cinto de segurança. A Transitolândia tem cerca de 17 anos, e o que vemos, é que esses primeiros alunos que foram pra lá, já não concebem sequer entrar em um veículo sem automaticamente já colocar o cinto. É uma geração que já vem com essa consciência, que foi adquirida dessa somatória do esforço de educação e que era muito reforçada na Transitolândia. Ainda, dentro deste escopo de educação no Trânsito, temos as campanhas educativas por nós promovidas, de conscientização, para os próprios motoristas. Nosso viés, portanto, é muito mais educativo do que punitivo. E neste sentido, participamos ativamente do “Maio Amarelo”, um esforço mundial. É um esforço constante.
O DER-DF enfim, tem apontado um caminho muito robusto, acerca da capacidade que os investimentos públicos têm de gerar um ciclo bastante positivo na vida das pessoas e na economia das cidades. Sendo assim, que mensagem o presidente deixa para aqueles que se sintam motivados a virem trabalhar com o Departamento, seja na prestação de serviços, na participação das licitações entre outros?
Nosso Departamento é regido por contratos. E esses contratos são sempre firmados com empresas que possuem capacitação, acervo e proficiência técnica. Então, nós temos um respeito muito grande aos contratos, e por extensão, aos parceiros de trabalho que essas empresas acabam se tornando do DER-DF. Nós entendemos que a dedicação vem antes de tudo. E se este for um entendimento mútuo, entre os integrantes da autarquia e dos nossos parceiros, quem ganha é a população. Então, o que posso dizer é que nós nos relacionamos de forma muito respeitosa e franca com as empresas, que sempre nos encontram de portas abertas. Fazemos questão de que todos os nossos projetos sejam discutidos, tratados, para que sejam executados da melhor forma possível, para que os resultados sejam os melhores, dentro de uma atmosfera muito transparente. A mensagem é muito simples, então. O Distrito Federal está aberto para receber os que querem fazer bem feito, não importa de onde vierem, se daqui, de Goiás ou São Paulo ou de outro canto do Brasil e do mundo. Se tiverem compromisso e forem competitivos, serão sempre bem vindos. Só exigimos qualidade.
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