Determinação e convergência
Face da robustez institucional da Associação Brasileira dos Departamentos Estaduais de Estradas de Rodagem (ABDER), o também diretor de Planejamento da GOINFRA (Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes, sob a pasta de Infraestrutura do Estado), o engenheiro pós graduado Riumar dos Santos, é um resiliente defensor das pautas da infraestrutura dentro e fora da gestão pública. Conhecido por seus discursos empolgantes e dono de uma visão dinâmica e entusiasmada das transformações que o rodoviarismo pode operar como indutor de progresso e desenvolvimento, ele encontrou tempo para falar com exclusividade à Rodovias&Vias, em meio aos preparativos para o tradicional Encontro Nacional de Conservação Rodoviária, ENACOR e a Reunião Anual de Pavimentação RAPv, que tornaram a ser presenciais este ano, na idílica Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul.
Rodovias&Vias: Este ano, marca os 45 anos da ABDER. Uma marca muito especial e que induz à algumas reflexões, para além das comemorações. Quais as suas percepções quanto aos principais avanços obtidos?
Riumar dos Santos: Bom, a ABDER foi criada em uma grande reunião em 1977, em Manaus, onde os diretores de órgãos rodoviários à época, se atinaram à necessidade de criar uma associação, sem fins lucrativos, como uma forma de fomentar melhores práticas, incrementando a interlocução entre essas autarquias estaduais. À essa época, havia um grande crescimento em investimentos em termos de malhas estaduais e federal, e acertadamente, houve esse entendimento de unir forças e convergir interesses comuns em um único “guardachuva”. Assim foi iniciado sob a marca da ABDER esse profícuo intercâmbio técnico, de ideias e de compartilhamento de soluções, uma vez que o Brasil, como nação continental, possui muita diversidade geográfica, de clima, de solo e mesmo de cultura, com cada um dos representantes dessas diferentes realidades, sendo portadores de respostas aos desafios que encontravam. Respostas justamente nascidas desta engenharia brasileira igualmente diversificada e competente em vencer limitações. Neste contexto, foi instituída uma sede própria no Rio de Janeiro, mais tarde, evoluindo para a atual representação na Asa Sul em Brasília. De lá para cá, a associação desenvolveu muitos trabalhos, percorreu o Brasil a fora, exerceu um papel preponderante na defesa das políticas que privilegiavam o modal rodoviário, e mesmo, foi capaz de elevar discussões à um patamar técnico, abraçando temas como a segurança viária, faixa de domínio, volume de tráfego, enfim, todos esses assuntos inerentes ao bom funcionamento das rodovias. Hoje, encontramos a associação muito bem estruturada, com patrimônio próprio, livre de dívidas e oferecendo vários produtos, serviços e programas, como o próprio ENACOR, maior evento rodoviário da América do Sul, anual, além de workshops promovidos também anualmente pelos estados, bem como os GT’s (Grupos de Trabalho) permanentes, nas áreas de segurança, faixa de domínio, revisão de normas técnicas, tecnologia e claro, custos. Cinco temas imprescindíveis para a natureza do serviço a que os associados se propõem, em
seus sistemas.
A composição destes grupos, não é restrita apenas aos associados, não?
Não, não. De fato há integrantes de todo o ecossistema rodoviário, desde o mundo acadêmico, com a presença de universidades, empresas de concessões de rodovias, servidores, engenheiros, fornecedores de materiais, que têm tido um efeito enorme até na criação de projetos de leis de preservação de faixa de domínio, entre outras, de grande relevância para a atividade no país.
Como a atuação da ABDER, não apenas como observadora, mas também, como o senhor bem frisou, formuladora de políticas, vê os nossos acertos e os pontos que precisam ser atacados com mais ênfase, a partir desta vasta experiência? Em que pé o Brasil rodoviário está, e onde seria o desejável?
Sem dúvida alguma, em termos práticos, as rodovias brasileiras são um dos maiores patrimônios do país. Temos 1.7 milhão de Km de rodovias. Destes, perto de 300 mil são pavimentados. Então existe um mar de oportunidades para avançar na pavimentação de nossa malha, quer seja na esfera Federal, Estadual ou Municipal. Portanto, o que posso garantir, é que a nossa expectativa, é que, se amplie especialmente a pavimentação. A ABDER entende que há então, de modo geral, uma carência de recursos financeiros para destinação no segmento, não apenas na pavimentação, mas na duplicação e de melhorias de acessos e contornos viários. As capitais, neste contexto, precisam melhorar seus sistemas de transporte e mobilidade, com melhor conectividade e acessibilidade a outros modais de transporte, que efetivamente se dão, em primeira mão, pelo modo rodoviário. Então, um ponto em que a ABDER precisa avançar é justamente na atuação como facilitadora desse compartilhamento de ideias entre os DER’s. É notado, que muitas vezes um Departamento em determinado Estado, desenvolve uma ideia que caminha mais rápido do que quando comparado a outros pares. E isso precisa ser divulgado. Outro ponto, com a carência de recursos, é a ampliação da oferta de ajuda por parte da Associação aos DER’s, nas interações junto às instituições financiadoras nacionais e internacionais para captação desses recursos em projetos viáveis. Ainda, vemos oportunidades para a segurança viária e mesmo um reforço no controle de cargas, no sentido de termos mais eficiência na fiscalização de peso, que exerce tremenda pressão sobre os pavimentos, diminuindo sua vida útil. Essas são algumas das melhorias que nós entendemos, devem ser exploradas.
Um pouco antes, o senhor mencionou o ENACOR, aí em sua 24ª edição e que representa um núcleo importante de discussões. Que contribuições o senhor entende que o Encontro já surtiu e quais suas expectativas para este em Bento Gonçalves?
O ENACOR nasce em Goiânia, em 1996, com a ideia de ampliar as temáticas para conservação, manutenção, e segurança, além de todas as outras disciplinas que eu já mencionei. Foi uma iniciativa muito bem recepcionada por todos os DER’s do Brasil. Um produto, à época concebido pelo DERBA (Departamento de Infraestrutura de Transporte da Bahia), mas que foi posteriormente levado para a ABDER, que hoje detém essa marca do ENACOR, que ao longo do tempo foi percorrendo, de fato, o Brasil. Todas as regiões do país já tiveram suas edições. Um evento que começou com pouco mais de 500 pessoas e hoje passa de 2600 adesões tranquilamente, como foi registrado no ENACOR realizado em Brasília. Neste ano, o Rio Grande do Sul recebe o Encontro pela 3ª vez, agora em Bento Gonçalves, sendo que as duas primeiras edições foram realizadas em Gramado. E por um bom motivo: o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem do Rio Grande do Sul, DAER-RS, está completando 85 anos. Então, esta será também uma celebração ao segundo mais antigo Departamento de Estradas de Rodagem do país em um momento especial, que marca a retomada presencial do evento, que nos últimos dois anos foi realizado apenas virtualmente. Será um grande acontecimento, que reunirá a família rodoviária brasileira novamente, envolvendo também representantes do Governo Federal, com o Ministério da Infraestrutura, o DNIT, todos os Departamentos Estaduais, Empresários, Projetistas, os fornecedores de materiais, envolve a revista Rodovias&Vias, que é uma precursora de fato, desse tema tão relevante para o Brasil à fora.
Falando em retomada presencial, recentemente, pudemos nos reencontrar na Paving Expo 2022. Quais suas observações quanto à este acontecimento que movimentou o setor e quais as discussões que a ABDER pôde trazer à mesa durante ele?
Foi uma ocasião muito boa. A Paving é uma parceira da ABDER, que pôde participar da abertura, durante os 3 dias com seu stand e estará conosco novamente no ENACOR. Assim como nós, a Paving carrega esta bandeira do rodoviarismo, conosco, cumprindo um papel importante, enquanto uma feira que oferece espaço para equipamentos, produtos e materiais, e conta com total apoio da Associação, portanto. Como disse, foi um momento muito bom, o Guilherme Ramos, diretor da STO Feiras e Eventos, organizadora da Paving Expo e da BES 2023 – Brazil Equip Show, teve sucesso, conseguiu resgatar o formato presencial de uma maneira muito bacana, e claro, esperamos ter novas oportunidades de participar novamente em edições futuras.
Que mensagem você registra aos participantes deste e dos próximos ENACOR, que certamente trarão novos debates e discussões?
Bom, tudo indica que em Agosto mesmo, será decidido, ainda em Bento Gonçalves, o local da nova sede para 2023. Estamos juntos com a ABPv, que é a Associação Brasileira de Pavimentação, uma Associação irmã da ABDER e que estará também conosco em 2023. Eu registro o meu agradecimento antecipadamente à presença praticamente confirmada do diretor Geral do DNIT, General Santos Filho, que proferirá uma palestra durante o evento, e que além da abertura, promoverá um encontro entre suas Superintendências Regionais durante ele. E claro, deixo meu fraterno abraço, do tamanho do Brasil aos que nos prestigiarão e que chegarão de todos os pontos do país. É um privilégio e uma responsabilidade que aceitamos com grande orgulho, poder atuar nas discussões deste segmento que é uma parte fundamental da performance logística para alcançarmos o país que queremos. O Brasil é uma potência, essencial para a economia do mundo. E para que ele alcance definitivamente seu status é preciso que continuemos trabalhando para um melhor desempenho dos nossos transportes, de nossas rodovias e suas correlações com os outros meios. É para isso que a ABDER está aqui.
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